Fatos estranhos, acontecimentos impensáveis e situações inusitadas fazem parte da minha vida.

Já começa pela cidade, todas esquisitas. Até hoje morei em apenas três: Londrina, Cascavel e Uruguaiana (RS).



Quando vim ao mundo, em 1971, Antonio Belinati, Álvaro Dias, Délio Cesar, Kakunen Kyosen, Romeu Curi e Renato Araújo eram colegas na Câmara de Vereadores, junto com meu avô torto.
O prefeito era Dalton Paranaguá.

Cinco anos depois, já estava em Cascavel, a terra onde é preciso ver para crer. No dia 16 de novembro de 1980 eu estava no Estádio "Ninho da cobra" quando o goleiro Zico, do Cascavel, fez um gol em Joel Mendes, do Colorado (desculpem, procurei esse vídeo mas não achei). Naquela época, goleiro fazer gol era uma peripécia. Aquele campeonato foi atípico. No jogo final, o Cascavel podia perder por até quatro gols de diferença. O técnico Borba Filho, do Cascavel, sabia que o time seria goleado. Quando estava 2 a 0 para o Colorado, o Cascavel armou o famoso "cai, cai". Os jogadores foram forçando expulsões e simulando contusões até que o jogo teve que ser encerrado por não ter o mínimo de atletas em campo.
Cascavel ainda tinha outras curiosidades. Foi quando morei lá que fechou o único cinema da cidade, o Cine Delphin, que tinha matinês de domingo à tarde com filmes de kung fu, sessão das oito com os filmes do momento e uma sessão das 22:30 de filmes "calientes", em que menores de idade podiam entrar sem mostrar documentos. O cinema virou igreja universal, e a cidade ficou uns 10 anos sem sala de projeção.

É de Cascavel, a lei municipal para Cavalos usarem fraldas. Também nesta cidade, aconteceu um acidente de trânsito inimaginável. Uma batida entre uma Ferrari e um Corcel. A motorista da Ferrari atravessou a preferencial.

Depois de servir ao Exército (outra coisa impensável, devido à minha estatura, apesar de ter uns 6 mais baixinhos), voltei para Londrina, para estudar. Aqui vi outras coisas até então inacreditáveis. O PT conseguiu vencer a eleição para prefeito, Belinati conseguiu vencer também e teve a proeza de ser o primeiro prefeito cassado e preso. Nedson Michelleti, praticamente desconhecido, saiu de 2% para a vitória em 2000. Bonilha foi presidente da Câmara duas vezes, em mandatos diferentes.

Era demais. Fui para Uruguaiana, Rio Grande do Sul, a 1200 km daqui. Chegando lá, encontro uma cidade com 130 mil habitantes, 160 anos de idade, com ruas esburacadas apenas no centro (agora melhorou um pouco), terra nos bairros, esgoto a céu aberto, uma pobreza absurda na periferia. Um lugar onde o crime mais comum, depois dos furtos, é o abigeato (ladrões pulam a cerca das propriedades rurais, matam bois e vacas e já "carneiam" ali mesmo, deixando couro e ossos.
Um lugar que, apesar do nome, faz fronteira com a Argentina, separada pelo Rio Uruguai. Um povo que odeia os argentinos e vice-versa, apesar de dependerem uns dos outros. Apesar da pobreza, é um lugar que tem seis jornais, seis emissoras de rádio formais e umas 12 comunitárias. Dez escolas de samba e um dos carnavais mais luxuosos do sul do Brasil. Aliás, o Carnaval de Uruguaiana é realizado em um calendário diferente, durante a semana santa. Isso porque os dirigentes das escolas fizeram uma greve por causa da prefeitura e acabaram atrasando o desfile. Depois, já passado o Carnaval em todo o Brasil, eles se acertaram e fizeram o desfile. Deu tão certo, acabou atraindo turistas do Brasil inteiro, e passou a ser assim de uns 4 anos pra cá.

Uruguaiana também tem um desfile a cavalo no dia 20 de setembro, o Dia do Gaúcho, que vai das 8 da manhã às 7 da noite, só com cavalos e charretes. No dia 07 de setembro, além dos CTGs e Piquetes, tem os estudantes. No mês de dezembro, tem a Califórnia da Canção Nativa, um dos festivais mais tradicionais do sul do Brasil, de altíssimo nível, com artistas locais. Você já ouviu falar de César Passarinho? Ele é um mito desse festival.



Em Uruguaiana, é normal você pedir um "cassetinho" ou comer um "negrinho". São os nomes de pão francês e brigadeiro, respectivamente. Um lugar onde, ao contrário do que se pensa, não tem boas churrascarias. Produz metade do arroz do Rio Grande do Sul, mas no supermercado é mais caro que em Londrina, ao passo que a Coca-Cola lá é mais barata que aqui, apesar de não ter fábricas num raio de 500 km.
Lá é normal falar: "Hoje vou ali em Itaqui", cidade que fica a 95Km de distância.
Quando morei lá, o aeroporto foi desativado, a Varig fechou. Até então a cidade tinha apenas um vôo diário, para Porto Alegre. O avião chegava da capital e uma hora depois voltava. Era a única movimentação do dia.
Uruguaiana tem três times de futebol, nenhum na segunda divisão do gauchão, nem na primeira. O mais popular é o ECU - Esporte Clube Uruguaiana.
É a terra onde esfria à tarde e esquenta de madrugada, dá tempestades terríveis e em seguida abre o sol e onde a previsão do tempo fica vencida. Quando o Jornal Nacional diz que uma frente fria está vindo da Argentina, em Uruguaiana, já está chovendo. No verão, enfrentei 41 graus. No inverno, -5.
Em Uruguaiana, o comércio fecha no almoço e ser dono de posto de combustível é uma atividade falida. No outro lado da fronteira a gasolina custa a metade do preço.
Uruguaiana é o lugar onde dá enchente sem chover, e os moradores, mesmo com a casa alagada não saem porque senão outro entra no lugar ou rouba os móveis.

Voltei pra Londrina e vi o basquete praticamente morrer, o vôlei acabar, o futebol falido, e o Belinati voltando a vencer uma eleição, não assumindo e a gente passar por uma campanha toda e chegar a essa época do ano sem saber quem vai assumir. Por tudo isso é que a situação de Londrina pra mim não é mais surpresa