Ele era jovem, marinheiro de primeira viagem. Logo após terminar a escola, conseguiu vaga em um barco pesqueiro, de médio porte, que se aventurava em águas bravias. Para aquele novato, que tinha muito a aprender, estava bom.

Os anos se passaram e o barco foi se tornando lento, oneroso, incapaz de produzir com o mesmo custo-benefício. O comandante toma uma decisão drástica: "Temos que aliviar o peso do navio". Cinco tripulantes, entre eles, nosso marujo, foram atirados ao mar.

Enquanto nadava, tentando encontrar algo para se apoiar, ele é resgatado por um grande veleiro, cujo capitão lhe fez uma proposta inesperada: "Topas ser o comandante de uma pequena embarcação da nossa frota"? Ele topou.

Navegou com ela por mares do sul, águas estrangeiras, às vezes. Comandou uma equipe jovem, inexperiente como ele outrora fora, mas com muita vontade. Apesar da boa produção daquela equipe, nosso marujo é colocado pra fora novamente. Não foi um naufrágio, mas 218 marinheiros daquela frota de pequenos navios foram para a água junto com ele.

O marujo volta para seu porto. Tem dificuldade para voltar a pescar. Até consegue lugar em um tradicional veleiro, mas o vento não sopra a seu favor. De repente, se vê de novo no mar aberto. Sem barco, sem bóia, sem remos. Depende apenas da misericórdia de Deus e da força de seus braços para nadar.

Nadando contra a maré ou aproveitando a força da correnteza, ele alterna momentos de luxo e limbo. Consegue entrar em uma grande embarcação, mas só em curtas temporadas. Faz pequenas viagens, algumas incertas. Lança sua rede em direções desconhecidas, para levar o sustento para a sua casa.

Ele vê grandes embarcações passarem bem à sua frente, com vagas abertas, mas seu acesso à tripulação é negado.

Cansado de ser desprezado, ele decide investir mais em sua pescaria solitária. Foca neste objetivo. É quando sua rede começa a ficar mais pesada, peixes de várias espécies aparecem. Ele faz uma parceria com um grande grupo. Passa a trabalhar conciliando o que faz para si e para terceiros. O marujo consegue manter uma produção média, que melhora sua condição e ainda fisga grandes peixes esporadicamente, o que lhe permite fazer investimentos, selecionar melhor as propostas.

Antes desprezado, ele agora recebe propostas para fazer parte de outras embarcações. Aceita o que dá, soma mais capital, acumula, realiza sonhos seus e de sua família.

Embora passasse por um bom momento, aquela vida incerta não o agradava. Ele pescava de manhã até de madrugada, 7 dias por semana, sem descanso. Foi quando a maior embarcação daquele estado, a mais bem equipada, onde ele já tinha estado em curtas temporadas, resolve chamá-lo novamente. A proposta agora era para ser efetivo do barco. A resposta é SIM!

Ele então vê um filme passar durante um segundo por sua mente, desde aquela primeira viagem, aos momentos em que estava perdido no mar, ao reequilíbrio e ao prêmio. Águas passadas.

Chega o dia em que o navio vai zarpar. Ele embarca, com sensação de alívio. Após 5 anos, sua vida volta aos eixos.

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Este fábula tem relação com o post anterior. Veja quem é o marinheiro deste texto fictício.