Para quem é bom observador, bastam alguns segundos para descobrir uma história. Por exemplo: numa rua tranquila da Vila Casoni, em Londrina, duas vizinhas vivem em pé de guerra. Bem na hora em que eu passava de carro na frente da casa delas, ontem de manhã, as duas terminavam de varrer a calçada. Tem muita gente que tem esse hábito: levantar cedo e juntar as folhas em frente de casa. Aí já aproveita e bate um papo com o vizinho, que está fazendo a mesma coisa, e assim a vida passa. Mas com aquelas duas vizinhas não, elas se odeiam, pelo visto.

Por que cheguei a essa conclusão? Bem na hora que passei, devagar, pois a rua é estreita, uma delas levantou a piaçava e foi se recolhendo. Tinha terminado, abriu o portão e estava entrando. A outra varria um pouco mais atrasada, logo ao lado. São duas senhoras, 60 e poucos anos, meio gordinhas, com aquele bíceps gigante de pessoas dessa idade. Cara de lutador de vale tudo. Alguma coisa séria já aconteceu entre elas.

Naqueles 20, 30 metros que passei da esquina até a frente das duas casas e a outra esquina, onde faria a conversão, presencei o fato que sustenta toda esta suspeita de ódio mortal entre as duas tiazinhas. Foram cerca de 15 segundos. Como eu dizia, a primeira ia entrando, depois de terminado o serviço e, de rabo de olho, viu que a vizinha fez um movimento estranho. Ela pegou uma pedrona do chão, parecia mais um pedaço de entulho, calçada quebrada, ou coisa que o valha, ergueu lá no alto com a força de seus muques e jogou para o lado da rival. E ainda fez uma cara de... "E VÊ SE NÃO SE METE MAIS COMIGO, PALHAÇA!".

A outra virou uma fera. Deu meia volta, pegou a pedra e jogou de volta. E ainda fez aquele balançar de cabeça típico de quem quer mostrar quem manda. Parecia a Dona Florinda, depois de bater no Seu Madruga e falando...E DA PRÓXIMA VEZ, VÁ JOGAR A PEDRA NA CASA DA SUA VÓ! HUUFF!! (o som do aceno de cabeça). Uma linguagem apenas corporal, gesto mecanizado com o vigor de um arremessador de peso olímpico.

Eu já estava na esquina, tinha que virar, mas não podia perder o desfecho de mais uma cena daquele pastelão que parecia antigo entre as duas velhotas. Parei e fiquei olhando. O motorista do carro de trás não entendeu nada. Mal sabia ele que estava na linha de fogo. A vizinha jogou a pedra de volta e ficou encarando do lado de dentro do portão. Eu rindo e pensando: agora vai virar um ping-pong, até uma tacar a pedra na cabeça da outra ou a pedra se esfarelar.

A mulher da casa da direita, a que começou a confusão (pelo menos da parte que comecei a acompanhar), frustou minha expectativa. Ela afinou. Fez que ia devolver a pedra para o lado da adversária e arremessou do outro lado da rua. Pronto. Ali ficou claro quem era a Dona Florinda e quem era o Seu Madruga.

Pelo visto, esse foi só mais um round. Amanhã passo lá de novo.