Não fosse a espera, andar de ônibus pra mim não seria problema nenhum. Eu gosto. Claro, carro é muito melhor, mas o transporte coletivo pra mim não é o fim. É sempre uma surpresa e uma situação nova atrás da outra. Ontem, por exemplo.

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No ônibus gosto de sentar naquelas poltronas mais altas, que são mais altas por ficarem em cima dos eixos traseiros. Fica mais perto da janela e é possível ter uma visão completa de quem está dentro. Ontem quando entrei já tinha uma pessoa no meu lugar favorito. Um jovem, ouvindo MP3, meio malzão, bermuda tão baixa que a cueca aparecia. Tinha um lugar na frente dele. Ia sentar lá, mas vi a poltrona dupla mais alta do outro lado, e fui nela.
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As pessoas foram descendo, o ônibus foi chegando ao bairro, e aquele jovem adormeceu. Ali percebi que ele estava bêbado. Quando andou mais um pouco, já nas ruas do bairro, ele despertou, vomitando. Foram três "gorfadas". A primeira eu vi, as outras, escutei. Aquele cheiro de vinho com cerveja e alimentos fermentados tomou conta do ar. Pra mim, não tem nada mais nojento que ver uma pessoa vomitando. Já vi pessoas mortas, esmagadas em acidentes e até corpos em decomposição, mas isso pra mim é o nojento. É porque a cena não mais da minha cabeça. Sempre lembro dela na hora que vou comer. Pode ser um bebezinho vomitando, tenho nojo do mesmo jeito.
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Naquela hora, com a mão no nariz, o rosto virado pra fora (que pela escuridao de fora refletia o outro lado do ônibus onde estava o rapaz), pensei duas coisas: EU SERIA O ÚLTIMO A DESCER DO COLETIVO. Por outro lado, conformei-me, pois por pouco não sentei bem na frente do vomitador.
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O ônibus anda mais uns 4 minutos e o rapaz desce, zonzo. Foi só fechar a porta e uma passageira (naquela hora éramos 3):
- Que dó! Um rapaz tão novo nessa situação! Tenho dó da mãe, ver o filho chegando em casa desse jeito! Coitada! Blá, blá, blá...
Ainda bem que ela desceu logo depois, senão ia ficar falando mais um monte. Ficamos eu o motorista. Ele também fez um comentário.
- O cara podia ter colocado a cabeça pra fora da janela!, analisou, com a experiência de quem convive com essa situação com certa frequência. Algumas quadras depois, desci e voltei a respirar.
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O episódio me fez lembrar desta música, do Garotos Podres.

Estava indo para a capital
No expresso do além

Tinha uma mina passando mal

Vagabunda esperando nenêm

De repente veio o caldo infernal!

Vomitaram no Trem!


Vomitaram no trem

Era só macarrão

Uns pedacinhos de carne

E uns pedaço de pão

Vomitaram no trem (4x)

Aquele caldo fermentou
Começou a acidar

O pessoal não aguentou
Começaram a vomitar!

Vomitaram no trem
Era só macarrão

Uns pedacinhos de carne

E uns pedaço de pão

Vomitaram no trem (4x)


O trem chegou na capital

Perguntaram "que que tem?"

Todo mundo passando mal

Pois vomitaram no trem!


Vomitaram no trem

Era só macarrão

Uns pedacinhos de carne

E uns pedaço de pão

Vomitaram no trem (4x)