E por lembrar de Pedro Muffato, lembrei-me de algumas histórias de meu ex-patrão. Sempre tive uma relação muito respeitosa com ele (claro!). Mas assim, quando eu o encontrava, ele conversava comigo, respeitava meu trabalho. Isso era muito vindo de um megaempresário como ele para um repórterzinho pé-de-chinelo que eu era.
Quando ele participava dos churrascos da TV, a certo momento, quando o pessoal começava a ir embora, Pedro tomava a iniciativa de juntar copos, restos de comida, pratos sujos. Arrumava tudo, deixava limpinho, até perguntava pros bebuns se podia por as garrafas no engradado.

Uma vez, cheguei ao trabalho cedo, como de costume, e ele estava me esperando. Em 95, a TV Tarobá de Londrina era apenas uma sucursal da emissora de Cascavel, e nosso QG era uma salinha cedida no setor administrativo do Muffatão do Com-Tour. Pensei: veio me demitir! (rsrsr) Pior: deu-me uma missão quase impossível.

Ele teve um caminhão de açúçar roubado na região noroeste. E tinha informações de que o caminhão tinha sido encontrado, mas não sabia onde e nem se ainda tinha a carga. "Dê uma fuçada e encontre pra mim", ordenou.

Pegamos o dinheiro do almoço (não existia pedágio ainda) e lá fomos. Eu, Roni e Paulão, às cegas pela estrada. Parei na Delegacia de Maringá, e um investigador me deu uma pista. "Fiquei sabendo de um caminhão encontrado perto de Umuarama, mas não tenho certeza". Seguimos para Umuarama. Pouco antes da entrada de Cianorte, encontramos alguns sacos de açúcar jogados num matagal. Na delegacia de lá, nos remeteram para outro lugar: Floresta. Já era quase meio-dia e só estávamos viajando de um lugar pra outro. Nem almoçamos.

Na rodovia, vi o trevo de Terra Boa. Deveríamos passar reto, mas decidi entrar na cidadezinha e ir até a Delegacia. É como costumo dizer: "posso não ser bom repórter (ainda mais naquela época, 1 ano de formado), mas tenho sorte". Parecia premonição: o caminhão estava lá, e estavam descarregando a carga de açúcar. Os agentes e PMs até ficaram surpresos com a nossa chegada lá, ficaram meio sem graça. Não sei o que teria acontecido se não aparecêssemos. Eles fizeram o B.O. da apreensão, tudo nos conformes. Estávamos lá como imprensa e fiscais do patrão. Contactei o Muffatão de Londrina, que mandou gente buscar o açúcar, enquanto terminávamos a matéria.
Gravamos entrevistas, fiz passagem em cima do caminhão. Depois seguimos para Floresta. Na delegacia, o motorista do caminhão aguardava, exausto, para prestar depoimento. Ele foi feito refém, apanhou dos ladrões e escapou do cativeiro, no meio de um pântano. Suas roupas sujas e seu corpo todo arranhado, cara inchada, confirmavam a história. Um roteiro de filme, descrito minuciosamente numa longa e bela entrevista, com direito a choro e expressões do tipo: "Pensei que ia morrer".

Voltamos pra casa com um grande vt, que rendeu matéria especial na Tarobá de Cascavel, com uns 4 minutos e uma versão menor para o Band Cidade, o estadual da Band.

O que ganhei com isso? Os parabéns, respeito e gratidão de Pedro Muffato, e meu salário no fim do mês. Além da sensação de ter vencido o maior desafio da minha carreira.