Ontem trabalhei até tarde. Saí já era quase meia-noite. Tem dias que Londrina parece aquelas cidadezinhas, em que depois de certo horário não se acha uma viva alma na rua. Ontem, estava assim. Na Avenida Tiradentes, os frentistas do posto do Com-Tour já se preparavam pra fechar. Nenhum carro na rua, ninguém no ponto de ônibus. Um traveco solitário esperava clientes numa esquina, mas ninguém aparecia.

Já na Avenida Maringá, semáforos amigos, abrindo em sequência. As lanchonetes estavam vazias. Até no Zé Lanches, reduto dos gulosos (atrás do X-Cretino), ninguém além do chapeiro e do garçom, que batiam papo em frente à TV. A Boreluccio fechada, ou nem abriu.

Peguei a Rua Goiás, uma ladeira sem niguém pela frente. Apesar da tentação de pisar um pouco mais fundo, não abandonei a cautela. As marcas de pneu no meio-fio da esquina, no trecho mais baixo são um alerta. Aliás, essa duplicação ficou um horror.

Na JK, o burburinho de saída na Unifil já tinha terminado. O Picwich já estava com as cadeiras levantadas e os funcionários passavam pano no chão. Na Farmácia Nissei, da JK com Higienópolis, uma rodinha entre o segurança e os balconistas. E ninguém lá dentro. Neste cruzamento percebi uma painel eletrônico bonito, que eu não tinha reparado antes. Isso porque passo ali todos os dias. Marcava 23:56.

Uns 200 metros adiante, perto do cruzamento com a Rua Pernambuco, vejo descer uma viatura da Acesf. Por instinto, mudo minha rota para seguí-la. "Pode ser um assassinato, alguma morte", pensei. Aí me dei conta do ridículo que estava fazendo. Eu não tinha uma câmera, nem um gravador nem uma máquina fotográfica. Ia fazer o quê? E mais: se fosse homicídio, seria o rabecão do IML. Aí concluí: naquele trajeto, viatura da Acesf, rumo à Avenida Bandeirantes, o destino só podia ser uma morte em algum hospital. Atrás do carro da morte - "Céus, eu estava seguindo o carro da morte!" - comecei a filosofar. "Alguém perdeu a batalha pela vida". "Alguém está chorando por alguém querido que se foi". "Que serviço desse motorista, transportar mortos! E ele ainda deve ajudar a carregar! E deve ganhar uma merreca!". Não deu outra, o carro da Acesf entrou no Hospital Evangélico.

Saí da Bandeirantes e entrei na Souza Naves, naquele trecho que lá embaixo beira o Lago Igapó. Fiquei com aquilo na cabeça. "Segui o carro da morte, e se me acontece alguma coisa depois disso? E ainda vou pelo caminho mais perigoso? Idiota!". Fui devagar (para os meus padrões) por ali e com cuidado redobrado até em casa.

Cheguei, abri o portão, entrei, tranquei e fiquei aliviado. Cheguei são e salvo. Naquela noite, em que tudo estava parado, tranquilo demais para uma cidade de 500 mil habitantes, só o quem estava agitado era eu mesmo.
Fim.
que texto imbecil!